Manejo Multidisciplinar da Sepse: Abordagens Atualizadas para Médicos, Enfermeiros e Fisioterapeutas

A sepse é uma condição médica crítica que resulta de uma resposta inflamatória desregulada do organismo a uma infecção. É uma das principais causas de morbidade e mortalidade em hospitais. Apesar dos avanços na medicina, o diagnóstico precoce e o manejo eficaz da sepse continuam sendo desafios significativos para os profissionais de saúde. Aqui, traremos uma visão abrangente sobre a sepse, incluindo definições, epidemiologia, fisiopatologia, diagnóstico, tratamento e medidas preventivas, com ênfase nas implicações para médicos, enfermeiros e fisioterapeutas.

Definição e Epidemiologia

A sepse é definida como uma disfunção orgânica ameaçadora à vida causada por uma resposta desregulada do hospedeiro a uma infecção. Quando não tratada adequadamente, pode evoluir para choque séptico, uma condição mais grave caracterizada por hipotensão persistente, necessidade de vasopressores para manter a pressão arterial média e níveis elevados de lactato no sangue.

De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a sepse afeta aproximadamente 49 milhões de pessoas anualmente e é responsável por 11 milhões de mortes, representando quase 20% de todas as mortes globais. Nos Estados Unidos, a sepse é a principal causa de mortes em unidades de terapia intensiva (UTI) e está associada a altos custos de internação hospitalar.

Fisiopatologia

A sepse resulta de uma resposta imune desregulada a uma infecção, que pode ser bacteriana, viral, fúngica ou parasitária. O processo inicia-se com a liberação de toxinas microbianas que ativam o sistema imune inato, levando à produção de citocinas pró-inflamatórias, como o fator de necrose tumoral alfa (TNF-α), interleucinas (IL-1, IL-6) e outras. Essas citocinas induzem uma cascata inflamatória que resulta em disfunção endotelial, aumento da permeabilidade vascular, coagulação intravascular disseminada (CID) e disfunção de múltiplos órgãos.

O choque séptico é uma complicação grave da sepse, caracterizada por hipotensão refratária ao tratamento com fluidos e aumento da concentração de lactato, indicando hipoperfusão tecidual e metabolismo anaeróbio. A falha multiorgânica é uma consequência final, onde órgãos como rins, fígado, pulmões e coração são afetados, podendo levar à morte.

Diagnóstico

O diagnóstico precoce da sepse é fundamental para melhorar os desfechos clínicos. No entanto, identificar a sepse pode ser desafiador devido à sua apresentação clínica variável. Os critérios de sepse foram atualizados na definição Sepsis-3, que enfatiza a disfunção orgânica como critério principal, utilizando o escore SOFA (Sequential Organ Failure Assessment) para avaliação.

Critérios de Diagnóstico:

Suspeita ou confirmação de infecção.
Aumento de 2 pontos ou mais no escore SOFA

Além disso, o uso do qSOFA (quick SOFA) como ferramenta de triagem fora da UTI é recomendado. Os critérios do qSOFA incluem:

  • Alteração do estado mental
  • Frequência respiratória ≥ 22 respirações por minuto
  • Pressão arterial sistólica ≤ 100 mmHg

A presença de pelo menos dois desses critérios sugere risco aumentado de sepse e necessidade de intervenção imediata.

Tratamento

O manejo da sepse envolve uma abordagem multidisciplinar, incluindo médicos, enfermeiros e fisioterapeutas. O tratamento é direcionado à eliminação da fonte de infecção, manutenção da perfusão tecidual e suporte de função orgânica.

1. Terapia Antimicrobiana:

A administração precoce de antibióticos de amplo espectro é fundamental e deve ser iniciada o mais rápido possível, preferencialmente dentro da primeira hora após o reconhecimento da sepse. A escolha dos antibióticos deve ser baseada na suspeita clínica da fonte de infecção e dados epidemiológicos locais.

2. Reposição Volêmica:

A reposição de fluidos é essencial para manter a perfusão tecidual. A ressuscitação inicial geralmente envolve a administração de 30 mL/kg de cristaloides dentro das primeiras três horas. A resposta ao tratamento deve ser monitorada continuamente, ajustando o volume de fluidos conforme necessário.

3. Vasopressores:

Em casos de choque séptico, onde a hipotensão persiste após a reposição volêmica, o uso de vasopressores, como noradrenalina, é indicado para manter uma pressão arterial média ≥ 65 mmHg.

4. Suporte de Função Orgânica:

O suporte de função orgânica pode incluir ventilação mecânica para insuficiência respiratória, terapia renal substitutiva para insuficiência renal aguda e suporte inotrópico para disfunção cardíaca.

Papel dos Enfermeiros e Fisioterapeutas

Os enfermeiros desempenham um papel fundamental no monitoramento contínuo dos sinais vitais, avaliação do estado clínico do paciente e administração de medicamentos. Eles são essenciais para a detecção precoce de sinais de deterioração clínica e na implementação de protocolos de tratamento. A educação contínua e a adesão aos protocolos de sepse são fundamentais para melhorar os resultados dos pacientes.

Os fisioterapeutas contribuem significativamente para o manejo da sepse, especialmente no que diz respeito à reabilitação precoce e mobilização dos pacientes. A terapia física ajuda a prevenir complicações associadas à imobilidade prolongada, como fraqueza muscular, complicações respiratórias e trombose venosa profunda. A intervenção precoce e a mobilização progressiva são estratégias importantes para a recuperação funcional dos pacientes.

Prevenção

A prevenção da sepse envolve estratégias para reduzir a incidência de infecções, incluindo:

Higiene das mãos e controle de infecções: A adesão rigorosa às práticas de higiene das mãos e protocolos de controle de infecções em ambientes hospitalares é crucial.
Vacinação: A imunização contra patógenos comuns, como influenza e Streptococcus pneumoniae, pode reduzir o risco de infecções que podem evoluir para sepse.
Identificação e manejo de infecções: A detecção precoce e o tratamento adequado de infecções, especialmente em populações de alto risco, são fundamentais.

A sepse é uma condição médica complexa e grave que exige uma abordagem multidisciplinar para diagnóstico, tratamento e prevenção eficazes. Médicos, enfermeiros e fisioterapeutas desempenham papéis essenciais na gestão dos pacientes com sepse, desde a identificação precoce até o manejo intensivo e a reabilitação. A educação contínua, a implementação de protocolos baseados em evidências e a colaboração entre as diferentes disciplinas de saúde são fundamentais para melhorar os desfechos dos pacientes com sepse.

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